Ponta Delgada, 9 de Julho de 2010
Gabinete de Imprensa da Câmara Municipal de Ponta Delgada
Lubélia Duarte
O povo do Estado de Santa Catarina, Brasil, não nega as suas raízes e mantém viva uma das mais genuínas tradições religiosas açorianas, o culto ao Divino Espírito Santo. Uma tradição que os descendentes de açorianos preservam com orgulho, transmitindo-a de geração em geração.
Esta foi a ideia geral da conferência da investigadora brasileira Lélia Nunes, realizada esta sexta-feira à noite, no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, no âmbito das VII Grandes Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada que decorrem até domingo.
Intitulada “Um olhar sobre o Espírito Santo em Santa Catarina – o contributo cultural da Diáspora açoriana”, a conferência de Lélia Nunes traçou um olhar transnacional através de diferentes manifestações culturais, usos e costumes, que o emigrante transportou na bagagem no século VXIII e que, ainda hoje, dão conta da riqueza que encerra a Diáspora cultural.
A investigadora falou sobre a influência açoriana no processo de miscigenação cultural no Brasil, sobretudo em Santa Catarina, dizendo que os habitantes deste Estado brasileiro, na sua maioria descendentes de açorianos, têm “um sentido de pertença” relativamente à herança cultural levada pelos açorianos que emigraram para o Brasil há mais de dois séculos, o que constitui a maior expressão de transnacionalidade cultural de que há memória.
Lélia Nunes referiu que a celebração do Espírito Santo em Santa Catarina “ilustra bem a variedade do sentido de pertença de uma mesma herança cultural e da sua contribuição fundamental na configuração da identidade cultural. É a maior expressão da transnacionalidade cultural a partir da grande saga dos ilhéus açorianos do século XVIII”.
Defendeu mesmo que as mundividências de uma açorianidade sobrevivente tem no culto e na festa em louvor ao Divino Espírito Santo a sua maior manifestação, reforçando que a intensa comemoração destas festividades em todo o litoral de Santa Catarina “alimenta uma tradição secular que, mesmo modificada no decurso do tempo, se faz sentir em toda plenitude. Há em cada uma das localidades catarinenses características particulares, seja na celebração de solenes rituais religiosos, seja na realização de grandes festejos populares de carácter profano ao Espírito Santo. No entanto, são iguais na sua essência, no seu aspecto nuclear, na sua simbologia e na finalidade”.
A conferencista referiu ainda que as mais antigas referências “sobre a existência da Irmandade e a celebração da festa em Florianópolis datam de 1773, ano da instituição da Irmandade do Divino Espírito Santo da Paróquia Nossa Senhora do Desterro e de 1776 ano da realização da primeira Festa do Espírito Santo. Somente em 1806 aconteceu a primeira Festa com Coroação, sendo o primeiro Imperador o açoriano Capitão Manoel Francisco da Costa”.
“Pelo Estado fora, nas bordas do Atlântico e, sobretudo, na Grande Florianópolis é intensa a participação das famílias, das empresas, do comércio em geral, da administração municipal, do governo estadual, dos colégios enfim, de toda a comunidade” - salientou Lélia Nunes, referindo que o Espírito Santo “é a grande Festa da partilha, do espírito solidário, da comunhão, da liberdade e da alegria. Uma tradição abençoada com 263 anos, que chegou com os açorianos na grande Diáspora do século XVIII e continua muito viva, tanto que está salvaguardada pela força da Lei em alguns municípios. É o caso do município de Jaguaruna que, no Capítulo VIII, Secção II,Art.3200 da sua Lei Orgânica, promulgada em 1990, dispõe que a Festa do Divino Espírito Santo integra o património cultural do Município, e do Município de Florianópolis que instituiu Dia Municipal de Abertura Oficial das Festividades do Divino Espírito Santo, conforme determina a Lei 8010 de 21 de Outubro de 2009”.
Lélia Nunes salientou, por outro lado que, por todo litoral de Santa Catarina, “na Missa de transmissão da Coroa do Divino ao novo Casal Festeiro assiste-se a renovação de um compromisso firmado perante toda a comunidade. São os Caminhos do Divino abertos por naus açorianas ou baleeiras aladas no distante século XVIII. Trilhá-los é reacender junto ao espelho da memória colectiva, imagens de realidades de agora, ancoradas nos valores culturais e na religiosidade telúrica que entre signos sagrados e profanos, emerge com a força da tradição e na certeza de vivenciá-la no futuro”.
A anteceder esta conferência, foram inauguradas nos Paços do Concelho de Ponta Delgada, duas exposições, uma de carrocinhas tradicionais da ilha de São Miguel, de Avelino Carreiro, e outra sobre as “Marcas Açorianas na Ilha de Santa Catarina”, de Arante Monteiro, ele próprio descendente de açorianos, nomeadamente da Achadinha, Nordeste, ilha de São Miguel.
Segundo a Presidente da Câmara, a exposição de Arante Monteiro mostra bem o orgulho que os descendentes de açorianos que vivem em Santa Catarina sentem nas suas raízes.
Berta Cabral adiantou que, na sua recente visita a Florianopolis, ilha de Santa Catarina, teve oportunidade de constatar que o Sul do Brasil nunca negou as raízes açorianas e tem orgulho na preservação das tradições que os antepassados levaram para aquele país, incentivando a sua preservação - “um valor enorme que tem de ser valorizado, tanto mais que as tradições açorianas que hoje subsistem em Santa Catarina foram resgatadas, contribuindo para encurtar a distância que separa os Açores daquele Estado brasileiro”.
Ontem, realizou-se ainda a mudança da Bandeira do Espírito Santo do Centro Municipal de Cultura para os Paços do Concelho e a bênção da Despensa, após o que Berta Cabral sublinhou a importância destas festividades, que têm um significado muito especial e atingem, de ano para ano, uma dimensão cada vez maior, juntando cada vez mais pessoas à volta de uma fé e de uma tradição singular e própria do nosso povo”.
Berta Cabral aproveitou para agradecer a colaboração de todos quantos tornaram mais uma vez possível a realização das Festas do Espírito Santo.
Entretanto, sábado, a partir das 9h00, serão distribuídas as 35 pensões por Instituições Particulares de Solidariedade Social, enquanto, pelas 12h00, começam a ser servidas as Sopas do Espírito Santo, no Campo de São Francisco. Às15h00, tem início o Cortejo Etnográfico das 24 Freguesias do Concelho, na Avenida Infante D. Henrique e, às 19h00, a entrega dos troféus de reconhecimento, no Campo de São Francisco (Monumento ao Emigrante). Às 20h30, começa o concerto do Espírito Santo, pelo grupo “Vozes do Mar do Norte”, na Praça do Município e às 21h30 o concerto da Banda da Zona Militar dos Açores, nas Portas da Cidade. O concerto de Rui Veloso, tem início às 22h30 de sábado, no palco da Praça Vasco da Gama.
Domingo, pelas 10h30, terá lugar a Missa Campal, no Largo da Matriz, presidida pelo Bispo dos Açores, e, a partir das 12h00, será distribuído o Bodo de Leite, na Praça Gonçalo Velho. A Coroação dos Impérios do Concelho sai do Campo de São Francisco às 16h00 e pelas 21h00, realiza-se o lançamento do livro “A ilha, a fé e o homem”, de António Tabico, na Praça do Município, seguido de Cantigas ao Desafio pela Associação de Cantadores ao Desafio dos Açores. Às 21h30, nas Portas da Cidade, terá lugar o concerto de encerramento pela Orquestra Ligeira de Ponta Delgada e, às 23h00, um espectáculo de fogo-de-artifício, em frente à Praça Gonçalo Velho.
Entretanto, a 12 de Julho, pelas 20h00, no Solar da Graça, realiza-se a Ceia dos Criadores para os colaboradores da organização.
As Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada vão ser transmitidas através da Internet, no site www.livestream.com/cmpdl. Serão transmitidos, nomeadamente, o Cortejo Etnográfico de sábado, a Missa Campal e a Coroação de domingo.
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